Os deputados da UNITA, maior partido na oposição em Angola, defenderam hoje que as autoridades do país “devem ter cultura de planificar as necessidades reais” e “não depender de pressões sociais ou de orientações do Presidente da República”. Como? Não é crime acreditar no Pai Natal. Também não vem mal ao mundo quando os deputados resolvem mascarar, até porque estamos no Carnaval, o Galo Negro com um traje de pintainho acabado de nascer…
O posicionamento, correcto mas idílico, foi expresso hoje pela deputada Amélia Judith Ernesto, no final da visita que uma delegação parlamentar da UNITA efectuou à sede do gabinete provincial de Educação de Luanda, quando questionada sobre o anúncio da contratação de novos professores.
“Porque se houver uma outra pressão num determinado sector, o Presidente vem novamente a público, porque orientou isso, o país não pode continuar a andar com base na pressão, porque se houver aí uma pressão de médicos ou engenheiros, o Presidente vem a público e autoriza”, disse a deputada. Melhor fora que estivesse calada ou, no mínimo, evitasse dar mais trunfos ao MPLA.
Seja como for, adiantou, a “iniciativa do Presidente da República, João Lourenço, sobre a contratação de novos professores deve ser seguida com acções concretas de execução e planificadas as reais necessidades do país”. Como se não bastassem as habituais verdades de La Palice que caracterizam os governos do MPLA (sejam os liderados por Eduardo dos Santos ou este comandado por João Lourenço), vem agora a deputada da UNITA descobrir a roda e dizer-nos que as pessoas antes de morrer estavam… vivas.
A chefe da delegação parlamentar da UNITA, que falava à imprensa no final da visita, manifestou-se também preocupada com as “enormes dificuldades” por que passa o sector da educação no país e, em particular, em Luanda.
“Há, por exemplo, a questão do rácio alunos/salas de aula, sabem que Angola do ponto de vista educativo está na reforma e essa reforma deve estar incluída numa componente de forma completa”, referiu.
Vejamos, novamente, a declaração de deputada: “… Angola do ponto de vista educativo está na reforma e essa reforma deve estar incluída numa componente de forma completa”. O que é que isto quer dizer? Nada. Aliás, Amélia Judith Ernesto certamente reconhece que queria dizer algo mais perceptível, mais entendível. Ou será que teimará, como outros dos seus colegas, a dizer: sim, não, talvez, pelo contrário, não obstante todavia…?
Segundo ainda Amélia Judith Ernesto, a reforma educativa em Angola “está a percorrer de forma insuficiente, como é o caso do excessivo número de alunos na sala de aula”, referindo-se ao rácio aluno/professor, o que afirma contradizer a reforma curricular. É mesmo brilhante a forma como a deputada se expressa. É como ler, à noite, um jornal sem letras à luz de um candeeiro apagado…
“Há ainda um grande défice de infra-estruturas do ensino público (…), agravando-se as condições de trabalho, são essas questões que constatamos e ouvimos aqui, o que implica um trabalho ainda mais aturado, planificado e projectado”, sustentou.
Questionada sobre a fatia incrementada no Orçamento Geral do Estado (OGE) 2018, para o sector da educação, a deputada do maior partido da oposição considerou tratar-se apenas de “tirar de um sítio e colocar no outro”. Mas haverá alguma forma de fazer diferente, isto é, pôr num sítio sem tirar de outro? Ou basta inscrever verbas e imprimir dólares?
“Claro que vai acudir, mas não vai resolver as grandes dificuldades que este sector enfrenta, porque a educação é a base e ela precisa de ser sólida”, rematou. Tem razão. Pena é que a educação (entendida como conjunto de normas pedagógicas tendentes ao desenvolvimento geral do corpo e do espírito e conhecimento e prática dos usos considerados correctos socialmente) não possa ter retroactividade. Mas, nunca é tarde para aprender.
Folha 8 com Lusa